Sunday, May 25, 2008

Portugueses mudam-se para supermercados mais baratos

Lojas discount e produtos brancos ganham espaço

25.05.2008 - 09h12 Ana Rita Faria



Com
a inflação a aumentar e os salários a manterem-se no mesmo ponto, os
portugueses sentem cada vez menos dinheiro no bolso. A agravar o
cenário, os preços dos produtos alimentares disparam a cada dia que
passa e tornam cada vez mais pesados os custos com a alimentação.
Solução? A procura de alternativas mais económicas. O segmento das
lojas discount (como o Lidl, Minipreço, Plus ou Netto) e as marcas
próprias das grandes cadeias estão a ser alguns dos beneficiários com
esta mudança dos hábitos de consumo.

No ano passado, os
discount foram o formato de loja a registar maior aumento (14 por
cento) no gasto médio dos lares em valor; os supermercados aumentaram
dez por cento e os hipermercados quatro por cento, de acordo com uma
análise realizada pela empresa de estudos de mercado AC Nielsen. A
seguir aos supermercados e aos hipermercados, os discount são o local
preferido para as compras dos portugueses e foram mesmo os que
registaram um maior aumento de quota de compras em 2007 - de 15,8 para
17,4 por cento.

Paralelamente, também as marcas próprias
estão em destaque e crescem a uma taxa superior à do mercado. Segundo a
Nielsen, aumentaram a sua quota de compras de 23,7 para 27,5 por cento
no ano passado e estão já a alargar terreno este ano. Curiosamente,
estão a conseguir mais popularidade precisamente nos produtos que têm
sofrido uma maior subida dos preços, o que quer dizer que o impacto da
crise alimentar está também a levar os portugueses a introduzir
alterações nos seus hábitos de consumo.

De acordo com um
estudo da TNS Worldpanel, uma empresa de estudos de mercado sobre o
consumidor, as famílias portuguesas gastaram no primeiro trimestre
deste ano mais 6,2 por cento em alimentação do que no mesmo período do
ano passado. Assim, de 353,7 euros nos primeiros três meses de 2007
passaram a gastar 375,7 euros no início deste ano. Na subida dos custos
com a alimentação pesaram sobretudo as variações de 2007 para 2008 dos
gastos médios com massas alimentícias (mais 34,4 euros), arroz (19,4) e
leite UHT (16,9).

Os consumidores saíram a perder, mas
as marcas próprias ficaram a ganhar. Segundo a Nielsen, a quota de
valor das marcas próprias (em hipermercados, supermercados e lojas
tradicionais, exceptuando o Lidl) acompanhou o aumento dos preços nos
produtos alimentares no início deste ano. As massas alimentícias
ganharam a dianteira, com mais 6,1 por cento de quota (de 25,4 no
início de 2007 para 31,5 em 2008), seguindo-se o leite UHT, com mais
4,5 por cento, e o arroz, com mais 3,6.

A manter-se esta
correlação entre preços elevados e marcas próprias, o ano de 2008 será
bastante favorável a este segmento do mercado. Fundando-se em dados
avançados pela Comissão Europeia em relação ao aumento dos preços das
matérias-primas, a TNS estima que as famílias portuguesas vão gastar
este ano mais 620 euros em alimentação do que no ano passado, ou seja,
uma média de mais 50 euros por mês. Assim, de uma despesa de 1591 euros
em 2007, as famílias vão passar a uma outra de 2211 euros em 2008. Quem
vai sofrer o maior impacto vão ser as famílias de rendimentos baixos e
médios que sejam, simultaneamente, as mais numerosas. Uma condição que
abrange actualmente cerca de 528 mil lares e mais de 2,1 milhões de
portugueses.